segunda-feira, abril 21, 2008

Veranico


Uma par de tamanquinhos

Prova o timbre da manhã.

Será o Rei dos Reis,

Com seus tamanquinhos?

Ei-lo que volta agora zumbindo num trimotor.

Um reflexo joga seus dados de vidro.

alta

alta

E a minha janela é alta

Como o olhar dos que seguiram o vôo do primeiro balão

Ou como esses poleiros onde cismam imóveis as invisíveis cacatuas de Deus.


[Mario Quintana; Aprendiz de Feiticeiro, 1950]

domingo, abril 20, 2008

Canção de Inverno


"Pinhão quentinho!
Quentinho o pinhão!"
(E tu bem juntinho
Do meu coração...)




[Mario Quintana; Canções, 1946]

terça-feira, abril 01, 2008

Canção de vidro

E nada vibrou...
Não se ouviu nada...
Nada...

Mas o cristal nunca mais deu o mesmo som.

Cala, amigo...
Cuidado, amiga...
Uma palavra só
Pode tudo perder para sempre...

E é tão puro o silêncio agora!





[Mario Quintana; Canções, 1946]

V

Eu nada entendo da questão social.
Eu faço parte dela, simplesmente...
E sei apenas do meu próprio mal,
Que não é bem o mal de toda a gente,

Nem é deste Planeta... Por sinal
Que o mundo se lhe mostra indiferente!
E o meu Anjo da Guarda, ele somente,
É quem lê os meus versos afinal...

E enquanto o mundo em torno se esbarronda,
Vivo regendo estranhas contradanças
No meu vago País de Trebizonda...

Entre os Loucos, os Mortos e as Crianças,
É lá que eu canto, numa eterna ronda,
Nossos comuns desejos e esperanças!...



[Mario Quintana; A Rua dos Cataventos, 1940]