quinta-feira, março 31, 2005

Noturno Citadino

Um cartaz luminoso ri no ar.

Ó noite, ó minha nega

toda acesa

de letreiros!... Pena

é que a gente saiba ler... Senão

tu serias de uma beleza única

inteiramente feita

para o amor dos nossos olhos.



[in: Esconderijos do Tempo]

A Canção do Mar

    Esse embalo das ondas

    clique para ampliarDas ondas do mar

    Não é um embalo

    Para te ninar...


    O mar é embalado

    Pelo afogado!


    O canto do vento

    Do vento no mar

    Não é um canto

    Para te ninar...


    São eles que tentam

    Que tentam falar!


    Tiveram um nome

    Tiveram um corpo

    Agora são vozes

    Do fundo do mar...


    Um dia viremos

    Vestidos de algas

    Os olhos mais verdes

    Que as ondas amargas


    Um dia viremos

    Com barcos e remos


    Um dia...


    Dorme, filhinha...

    São vozes, são vento, são nada...


    [in: Esconderijos do Tempo]

quarta-feira, março 30, 2005

Eu Fiz Um Poema

Eu fiz um poema belo

e alto

como um girassol de Van Gogh

como um copo de chope sobre o mármore

de um bar

que um raio de sol atravessa

eu fiz um poema belo como um vitral

claro como um adro...

Agora

não sei que chuva o escorreu

suas palavras estão apagadas

alheias uma à outra como as palavras de um dicionário.

Eu sou como um arqueólogo decifrando as cinzas de uma cidade mota.

O vulto de um velho arqueólogo curvado sobre a terra...


Em que estrela, amor, o teu riso estará cantando?

Clique para ampliar a imagem
O despertador é um objeto abjeto

terça-feira, março 29, 2005

O silêncio

Há um grande silêncio que está sempre à escuta...

E a gente se poe a dizer inquietantemente qualquer coisa, qualquer coisa, seja o que for,
desde a corriqueira dúvida sobre se chove ou não chove hoje
até tua dúvida metafísica, Hamleto!

E, por todo o sempre, enquanto a gente fala, fala, fala
o silêncio escuta...
e cala.

Mario Quintana
[Esconderijos do Tempo]

Auto-Leitura

A minha obsessão por sapatos e vacas
Diverte os amigos
Os inimigos
Os psicólogos
Creio que diverte também até as próprias vacas
- menos a Poesia!

[Mario Quintana]

segunda-feira, março 28, 2005

Evolução

Clique para ampliarTodas as noites o sono nos atira da beira de um cais

e ficamos repousando no fundo do mar.

O mar onde tudo recomeça...

Onde tudo se refaz...

Até que, um dia, nós criaremos asas.

E andaremos no ar como se anda em terra.


[in: Esconderijos do Tempo]